sexta-feira, 20 de agosto de 2010

‘Livro digital veio para ficar, mas não para substituir’

kindle A julgar pela quantidade de pessoas circulando pelos corredores da 21ª Bienal do Livro de São Paulo com sacolinhas nas mãos, o livro impresso não está nem perto de sua morte anunciada pela chegada dos e-books, como são chamados os livros em formatos digitais, geralmente comercializados em formato PDF, e os aparelhos de leitura eletrônicos. Pelo menos não aqui no Brasil.

O livro digital foi tema de debate no Salão de Ideias da Bienal, na tarde desta quinta-feira (19). Os rumos dessa nova tecnologia foram discutidos por Ednei Procópio, sócio-fundador da Giz Editorial e membro da Comissão do Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro, e pela escritora Regina Drummond, autora de diversos títulos infantis, como "Histórias de Arrepiar".

Para Procópio, autor de "O livro na era digital", um obstáculo importante para a popularização do livro digital no Brasil é o baixo acesso à internet: apenas 10 milhões de pessoas têm banda larga em casa, uma parcela pequena da população. E ainda há o custo dos aparelhos. O Kindle, leitor eletrônico comercializado pela livraria online americana Amazon, custa US$ 380, mas não é vendido no Brasil. O iPad, aparelho de leitura da Apple, vale US$ 500, mas não há confirmação de quando ele chegará ao país e qual será seu preço. A boa notícia é que um texto digital costuma ser mais barato do que sua contrapartida em papel - há um consenso no mercado de que ele deve custar cerca de 30% menos.

Por aqui há leitores de outras marcas. O Mix Leitor-d , primeiro leitor eletrônico com tecnologia de software nacional, sai por R$ 890 (leia mais ao final da matéria). O Cool-er, vendido pela editora Gato Sabido, custa R$ 599. Ele usa a tecnologia de tinta eletrônica, similar à do Kindle. A Positivo também lançou o seu e-reader, o Alfa, que tem tela sensível ao toque e vem com o Dicionário Aurélio. O preço fica entre R$ 650 e R$ 750.

Para Ednei Procópio e Regina Drummond, é possível aproveitar o melhor de cada formato: a capacidade de armazenamento dos leitores eletrônicos, que permite carregar dezenas e até centenas de obras em um único aparelho, e o "fetiche" do livro impresso, o prazer do contato físico com o papel e a praticidade de poder ler sem se preocupar com baterias e cuidados para não estragar o equipamento. Por isso, Procópio diz que o futuro do livro não é nem digital, nem em papel - é híbrido. Sua editora, a Giz, tem 200 títulos em seu catálogo, todos eles na forma impressa e digital.

Apesar de o mercado de livros digitais no Brasil ser incipiente, outras editoras apostam no produto. A Melhoramentos, de São Paulo, produz livros digitais desde 1990, já que foi nesse ano em que a editora lançou dicionários em disquete. Em 2009 a empresa lançou seus e-books, e hoje conta com cerca de 60 títulos nesse formato. Neste ano, a editora disponibilizou no iTunes, a loja online da Apple, um aplicativo para a leitura de seus livros no celular da marca, o iPhone.

Já a editora Singular tem previsto para outubro o lançamento de outro aplicativo para iPhone e iPad que congrega junto à leitura do texto informações adicionais, como uma versão em áudio, dados históricos sobre os locais citados no texto e visualização de imagens. É o "e-book 2.0". A primeira obra a ser vendida com o formato será "1822", do historiador Laurentino Gomes, que terá sua versão impressa lançada em setembro pela Nova Fronteira.

"Essa deverá ser uma das tendências do mercado, trazer não só a transposição do texto do papel para o meio eletrônico, mas também novos elementos', diz Newton Neto, diretor-executivo da Singular. Hoje a Singular tem mais de 500 mil títulos, entre obras em português e outros idiomas, para a impressão sob demanda, outra tendência de mercado apontada por Neto. São cerca de 25 mil impressões por mês, mas a empresa prevê um crescimento para 120 mil em 2011. Paralelamente, conta com 20 mil títulos em livros digitais em seu catálogo.

Outro exemplo dessa tendência do "e-book 2.0" é o lançamento digital pela Globo Livros de "A Menina do Narizinho Arrebitado", clássico de Monteiro Lobato publicado originalmente em 1920. Na versão para iPad o leitor tem opções de interatividade, como arrastar a imagem de um vagalume pela tela para iluminá-la, ou tocar no nariz da personagem e fazê-la "espirrar". O livro deve chegar à AppStore, a loja da Apple, em novembro.

Você sabe o que é um e-book?
Uma pesquisa realizada pela GfK, a 4ª maior empresa de pesquisa de mercado no Brasil, mostra como o livro digital ainda está longe de ameaçar o tradicional no país. De acordo com a sondagem, 67% dos entrevistados não sabem o que é o e-book. Entre os mais jovens, de 18 e 24 anos, o índice de desconhecimento foi um pouco menor: 64%.

Apesar de os mais jovens serem mais antenados, Ednei Procopio não acredita que necessariamente os livros digitais vão estimular o gosto da leitura nas crianças e adolescentes. Mas eles têm um lado muito positivo, que é colocar o tema "livro" na pauta do dia. "Mas o livro eletrônico não forma leitor, para isso precisamos da educação", afirma Regina Drummond.

Já para Markus Dohle, diretor executivo da americana Random House, maior editora de livros em língua inglesa do mundo, as novas tecnologias podem dar sim um empurrãozinho no gosto pela leitura. "Conheço pessoas nos Estados Unidos que dizem: comecei a ler de novo por causa do meu leitor eletrônico - e também os meus filhos", disse, em entrevista para a revista alemã Der Spiegel.

No entanto, Dohle acha exageradas as estimativas de que em 10 anos o livro digital vai substituir o impresso. Alguns analistas chegam a prever que em uma década o livro de papel vai representar apenas 25% do mercado americano, baseados em números como os divulgados pela Amazon, que anunciou que em junho vendeu 180 títulos digitais para cada 100 livros de capa dura nos Estados Unidos.

Para Ednei, esse número pode dar uma impressão enganosa, já que a livraria virtual está contabilizando apenas os livros impressos de capa dura, excluindo as brochuras da conta. "Tradicionalmente os livros capa dura são mais vendidos nas livrarias físicas, pois as pessoas gostam de manuseá-los", diz.

Números à parte, não somos obrigados a optar por um ou outro formato. Como diz a escritora Regina Drummond, "está na dúvida entre o livro digital e o impresso? Então fique com os dois."

Matéria de: Juliana Tiraboschi, da Redação Yahoo! Brasil
Fonte: Yahoo
Imagem: Google Imagens

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